POR/BY_JULLIANA BAUER + DESIGN_RAFAELA LECH
Artigo publicado na edição 59 da Revista impressa abcDesign (2019)

O IBGE já avisou: em 2039, teremos mais idosos do que crianças no Brasil. Será que as formas convencionais de habitar serão funcionais para esse público? Foi repensando esses conceitos que a arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski passou a estudar e criar em São Paulo projetos de co-lares. Para recuperar a dimensão afetiva e cultural da convivência em comunidade, ela hoje aposta em estruturas intencionais não hierárquicas baseadas em sustentabilidade e autogestão. “É um modo de habitar que é uma evolução da espécie humana”, explica a urbanista. Em São Paulo, já há três em desenvolvimento.

Engana-se quem pensa que esse estilo de vida sacrifica a privacidade: as pessoas têm casas individuais, mas priorizam o espaço comum. Os membros são amigos que dividem responsabilidades e, de certa forma, a vida. Cada comunidade estabelece suas prioridades. Alguns optam por refeitórios, lavanderias, bibliotecas ou mesmo hortas comunitárias. Meios de transporte também podem ser divididos, para criar uma aproximação entre os membros e poupar recursos. Para Lilian, esse modo de viver é uma resposta à solidão e, principalmente, aos formatos já datados em que os apartamentos são construídos, criados apenas para acolher a estrutura de famílias. “O que vemos ainda são apartamentos e casas antiquados, que foram criados apenas para acolher a estrutura de famílias; mas papai, mamãe e filhinho é uma coisa que passa”, pondera.


Lilian ressalta que é importante diferenciar co-lares de outros modelos que surgiram com a economia colaborativa, como o AirBnb. “No AirBnb a pessoa usa um espaço e, após o uso, libera-o para outras pessoas, sem necessariamente ter uma interação com os demais usuários.” Nos co-lares, a ideia é justamente criar laços.

Rupturas

E se co-lares já exigem algum grau de ruptura com os padrões tradicionais de habitação, um modelo que vem ganhando adeptos em todo o mundo são as ecovilas, que são assentamentos humanos sustentáveis. Longe do tumulto das metrópoles, o cooperativismo, a alimentação orgânica e a energia renovável são colocados em prática em comunidade. As ecovilas já figuram como uma das práticas recomendadas pela ONU para o desenvolvimento sustentável. Inspiradas nas comunidades alternativas da década de 1960, elas podem ser encontradas por todo o Brasil.

Em maio de 2018, o prefeito de Florença, na Itália, Dario Nardella, lançou polêmica ao defender um limite no número de residências que poderiam ser alugadas pelo AirBnb. É que o pequeno centro histórico da cidade já conta com mais de 9.200 ofertas de alojamentos pela plataforma. Como resultado, Nardella afirma que a plataforma está estrangulando o mercado imobiliário e impactando na cultura local, uma vez que permite alugar apartamentos não apenas para turistas de passagem pela cidade, mas para aqueles interessados em passar meses morando ali também.

E Florença está longe de ser a primeira cidade a travar uma batalha contra o AirBnb. Berlim, Barcelona e Nova York já entraram muito antes nessa briga. Em Nova York, a guerra contra o AirBnb ganhou força em 2016, quando uma lei restringiu sublocações de curto prazo, fazendo com que a plataforma até mesmo processasse a cidade. Em 2018, o corregedor da cidade retomou a discussão, ao dizer que a plataforma custou aos nova-iorquinos 616 milhões de dólares em aumentos de aluguéis.

Em Barcelona, a briga se deu por conta dos aluguéis ilegais. Apesar de a cidade conseguir um consenso com plataformas semelhantes para a retirada dos imóveis sem licença turística, foi necessária uma multa de 600 mil euros para que a gigante californiana cedesse e fizesse o mesmo.

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